terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Mal(DITO) Cidadão numa Sociedade com Drogas*




Caríssimos,

Ultimamente estamos acompanhando um bombardeio de Reportagens e Criações de grupos de disCUSSÃO  sobre as drogas e movimentos afins. Está na moda falar do CRACK e tem até gente falando do OXI, todas duas são na verdade “cocaína suja”, não podemos esquecer do movimento pro - legalização da maconha que teve o seu boom quando intelectuais, Doutores, Ex-ministro e Ex-Presidentes se posicionarão a favor.
O que percebo é que todos se direcionam sempre às DROGAS, o que é bastante importante e louvável, e vejo que estamos em um momento impar para as políticas públicas AntiDrogas, ou será Sobre Drogas?, às vezes ficou em duvida.
 Mas gostaria de chamar atenção para onde estamos focalizando as nossas ações e intervenções que a meu ver se reduz sempre às DROGAS, isso é visto claramente nas discussões e nas próprias reportagens que mais falam das drogas do que quem é aquela pessoa, que motivos podem ter levado a tal situação e o mais importante, o que pode ser feito para que isso não se repita. Mas a realidade é que terminamos esquecendo o cuidado com o SER HUMANO, que antes de ser usuário é um sujeito com milhares de necessidades e com uma historia de vida.  
Para que ocorra uma construção transformadora da rede de cuidado as pessoas usuárias de drogas no Brasil é necessário um novo “olhar” sobre o uso e abuso das drogas assim permitindo que intervenções futuras sejam mais assertivas e que tabus e paradigmas sejam rompidos. Neste processo é preciso aliar pesquisas às experiências já existentes e que sejam pautadas em um modelo humanizado. 
Os trabalhos de intervenções devem ser implantados em massa abrangendo desde vários tipos de prevenção até redução de demanda, e que ocorra de forma atingir os municípios ou as micro-regiões de cada estado levando assim a uma descentralização do cuidado. E quando se fala em ações sobre usuários de drogas inclui-se (prevenção, tratamento, redução de demanda, redução de danos e reinserção social).
Por esta razão, a ética do cuidar não se fundamenta num conceito de moralidade centrado em direitos, mas em compromisso com a manutenção e a promoção das relações em que se está inserido (Tronto, 1997). Ela se baseia numa concepção diferente do ser, definido por sua capacidade de ligação com os outros seres, por seu movimento de buscar soluções para problemas morais vitais, os quais dizem respeito à qualidade das relações dos seres humanos entre si e destes com a natureza.
O cuidado exige um tempo que não é o do mercado, dos negócios, onde o objetivo é a acumulação e impera a lógica da competência, da competitividade. O cuidado está pautado na necessidade do outro. Isto significa que quem cuida não pode estar voltado para si mesmo, mas receptivo, atento e sensível para poder perceber o que o outro pode precisar. Para cuidar é necessário um conhecimento daquele que necessita de cuidados, o que exige proximidade, tempo, entrega.
O uso de drogas na historia da humanidade vem de milênios, o que se pretende não é extinguir as drogas tendo em vista que muitas delas são utilizadas para fins terapêuticos. O que precisa ser construído são intervenções aos danos causados pelo uso abusivo e indiscriminado de tais substâncias que levam a agravos ao comportamento humano e as suas relações sociais.
*Artigo baseado no livro maldito cidadão numa sociedade com drogas

Ricardo Cruz

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